Olimpíadas Rio 2016

Desde ontem acompanhando as Olimpíadas, um assuntos salta meus olhos quando vejo as reportagens de Joana Maranhão, nadadora e Rafaela Silva, Judoca: a influência negativa das redes sociais na autoestima das pessoas e na sensação de capacidade.

As palavras podem amparar ou detonar uma pessoa.

A responsabilidade das mídias no processo de traumatização e retraumatização da sociedade já é discutida há muito tempo. A forma como transmitem reportagens de violência, cenas chocantes e principalmente entrevistas com vítimas pressionando para que falem a respeito do evento recém ocorrido e chorem (para comover e gerar mais audiência) contribui para o trauma coletivo. Qual a responsabilidade da mídia na autoregulação e bem estar das pessoas? Qual a preocupação em equilibrar a quantidade de reportagens difíceis de digerir com reportagens que tragam bem estar, esperança, exemplo de vida?

Só que hoje com a propagação de notícias, post e principalmente comentários nas redes sociais estes questionamentos precisam ser de cada um de nós.

A responsabilidade é minha! É sua!

Já que postamos coisas sobre pessoas e para pessoas.

Mensagens escritas não tem a mesma interpretação que uma conversa cara a cara. É preciso pensar e filtrar o que se escreve. O escudo protetor das telas de computador e celulares garantem mais coragem para dizer coisas que “talvez” não fossem ditas ou dessa foram. Isso é perigoso.

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Seria bom que as pessoas pensassem no efeito daquilo que postam sobre pessoas. Como essa pessoa se sentiria recebendo isso nesse momento. Como Rafaela Silva recebeu as mensagens de violência, agressão e crítia, em um momento que pra ela já estava difícil? E li em reportagens, não sei se é verdade, que ela disse que foi ver as mensagens para procurar amparo. E é violentada!

Sim, precisamos tratar comentários agressivos de posts como violência! Isso não é manifestação “banal” de opinião.

Parece que agressão ajudou a minar a confiança de Rafaela Silva, que segundo as notícias, pensou em desistir e precisou de muito apoio do técnico e tratamento com a psicóloga para superar essa crença e acreditar que era capaz.

O que aconteceria se ela tivesse ficado congelada no fracasso e na humilhação? Hoje ELA não seria o OURO das Olimpíadas do Rio! Não seria o OURO DO BRASIL.

Quando é mérito é do Brasil. Quando os atletas não conseguem o resultado esperado são humilhados? Tem algo muito errado nessa relação. Cada atleta merece aplausos e incentivo pelo esforço independente do resultado. Aliás, ainda mais incentivo quando cai, trava, erra…

Acompanho adolescentes em consultório há mais de 15 anos. Agressões e humilhações aconteciam no passado e acontecem até hoje nas escolas. Mas com as redes sociais o eco dessa violência se propaga para o mundo. Várias pessoas leem e a própria pessoa lê várias vezes a agressão registrada e ainda os comentários que endossam. Isso tem gerado muitos traumas.

E trauma gera violência. Violência é interrompida com respeito e amor. E não com mais violência.

No caso das polêmicas notícias, Joana Maranhão, a nadadora olímpica, foi agredida publicamente com a justificativa de que isso seria o troco. A vingança. Por essa ter agredido outras publicamente.

Precisamos de um olhar crítico para essa questão das relações virtuais.

Se preferir ouvir, Segue o fechamento:

Voltando à história de superação. Também é muito bom ter um exemplo público de alguém que pode transformar uma história de dor em empoderamento. As crenças negativas são construídas a partir das vivências, das relações ao longo da vida. O problema é que essas crenças são generalizadas. Sentir que, “Eu não sou capaz”, “Eu não sou amada”, “Não posso errar” e outras tantas extrapolam a situação vivida e contaminam todas as situações da vida. Minando a capacidade de amar, de ter sucesso, de criar.

A boa notícia é que a psicologia moderna estuda e trata as crenças limites. Inclusive com estimulação cerebral. O EMDR atua de forma muito eficaz nesse processo. Podendo dessensibilizar e reprocessar essas crenças com seu conteúdo traumático. Seja ele conhecido ou não pela pessoa. A estimulação cerebral permite que memórias implícitas e explícitas sejam trabalhadas.

Dessa forma apesar do que fizeram com a gente, do que passamos na vida, podemos fazer algo por nós mesmos. O pior inimigo é a nossa cabeça. A prova olímpica mais difícil é combater os temores internos e as crenças limitantes.

Então o ouro é merecido Rafaela!

Minha reverência e gratidão por ter você representando a esperança do nosso Brasil.