Unidade na Diversidade 
Fórum UNAT 2008, Brasília – DF

Reflexões sobre o tema do Fórum ao preparar a minha apresentação:
O que podemos acreditar sobre nós mesmos?

Público alvo: psicólogos, médico, cuidados e interessados.

Ouvindo Roberto Crema falar no fórum de abertura sobre a necessidade do religar, fico pensando sobre essa questão da cura como a união das polaridades. Precisamos ter os pés na terra, enraizados para poder chegarmos aos céus. Precisamos do oriental e do transcendental. Vivemos no ocidente, banhado por essa cultura analítica, “diabolos”, o mundo que separa, do especialista. Um mundo com tantas opções, mas com tanta separação. E o Fórum vem com essa proposta, que surge dessa necessidade de resgatar a unidade, a união, o encontro.

E então surge o questionamento: Como mantermos um centro, uma unidade, meio a tantas possibilidades?

Tenho visto, e vivido, uma clínica que acredito ser retrato da nossa sociedade ocidental, de separação, cada vez mais cheia de perturbações graves, cada vez mais psicóticos, surtos e tentativas de suicídio. Serão eles os não adaptados ou os saudáveis que não conseguem se adaptar a uma realidade doente. Roberto Crema, Jean Yves e Pierre Weil falam da Normose – a patologia da normalidade. Esse é um questionamento importante termos em mente para auxiliarmos, os que nos procuram em consultório, aonde está o saudável? Qual será esse caminho que levará a pessoa a resgatar o seu movimento? Para isso precisamos nos cuidar, cuidadores, para não nos adaptarmos a normalidade.

Com tantos traumas e perturbações fazem-se necessário a busca de caminhos para encontrarmos essa cura. Só assim podermos facilitar a cura daqueles que nos procuram. Precisamos nos conectar com o nosso núcleo sagrado cheio de potencial criativo. Vibrando nesta energia poderemos auxiliar, quem nos procura em terapia, esse processo de reconectar com esse núcleo vital. Esse parece ser um caminho de cura da divisão, da cisão que vivemos hoje.

Poder estar com os pés no chão para poder se religar, ser intuitivo, ser sentimento, coração, livre, com possibilidades e autonomia parece ser o procuramos. Por outro lado, vejo que chegar a essa saúde e plenitude tem alguns entraves.

Crescemos em diferentes meios nos quais vamos formando nossos scripts, com todas as suas injunções, muita vezes inconscientes. Eric Berne nos falou das posições existenciais. De eu estar OK+ ou – e ver o outro OK + ou -, contudo na maioria das vezes as pessoas que vem ao consultório estabeleceram posições existenciais disfuncionais, não ok.

Como acreditar que elas podem, que são capazes?

Em 2000 eu descobri e comecei a incorporar em meu trabalho um instrumento que tem me ajudado muito a trabalhar com essas crenças que temos a respeito de nós mesmos. Como é difícil mudar ou superar algo se não acreditamos que podemos. Muitas vezes essas crenças foram estabelecidas e reforçadas por vivencias de abusos, traumas e convivências tóxicas. Por mais que a pessoa queira, o que a acredita é diferente.

Esse instrumento, o EMDR, é rico, pois utiliza uma capacidade inata do nosso cérebro de processar as informações: a “Resolução adaptativa.” Naturalmente nosso cérebro irá conduzir as informações para uma resolução adaptativa. Contudo, quando uma pessoa passa por uma situação muito perturbadora esse sistema fica bloqueado impossibilitando esse funcionamento adaptativo.

Com o EMDR o terapeuta passa a ser um observador, que está junto ao cliente, para garantir que o sistema se mantenha em movimento, seguindo processando para que naturalmente dessensibilize as redes necessárias e siga para a sua resolução e cura.

Os requisitos necessários para um bom trabalho em nossas abordagens também serão aqui necessários, como: a empatia, a intuição, o continente e o campo entre você e o cliente.

O que tenho visto é que ativando esse sistema adaptativo do nosso cérebro, com estímulos bilaterais, podemos processar a experiência perturbadora com todos os seus componentes: imagem, pensamento negativo, sentimento e sensação corporal. Com isso, é possível que a perturbação baixe significativamente e com isso é comum a pessoa ver a experiência de outra forma: distante, como se estivesse no passado, não perturba mais. O tratamento produz uma mudança no processamento de informações. A pessoa passa a ter uma mudança na percepção do mundo. E já pode acreditar que é capaz.

Quando chegamos a esse ponto do processamento instalamos essa crença positiva, o sentimento e a sensação corporal. Acreditando que somos capazes podemos ter autonomia sobre a nossa vida, sobre o nosso futuro. Podemos definir o nosso destino e não mais estarmos presos a uma história limitante. Essa liberdade de funcionamento, acredito ser a saúde que possibilitar conduzir nossa vida a plenitude.

Acredito que estamos nessa vida para vivermos PLENAMENTE. E se isso não está acontecendo é preciso fazermos alguma coisa. E às vezes não conseguimos sozinhos possibilitar esse movimento então precisamos de ajuda. Vejo que a relação terapêutica é uma boa intervenção nesses momentos.

E assim vejo, nós terapeutas, como ajudantes no meio do caminho, facilitando o processo para que a pessoa sinta-se capaz. Capaz de conduzir sua vida para aonde desejar. Plena de possibilidades, diversa e una.

Um abraço de borboleta pra vocês

Abraço de Borboleta é uma forma fácil e sutil desenvolvida por uma pessoa aqui na América do Sul para trabalhar com crianças vítimas de desastres naturais, durante o programa de ajuda humanitária. O formato da borboleta também se assemelha ao símbolo do infinito. Roberto fala de usarmos as duas asas da borboleta… para podermos voar. E saber pousar.

O EMDR usa a borboleta para religar o lado direto e esquerdo do nosso cérebro tão poderoso e ainda tão indecifrável, mas com um grande potencial para cura. A borboleta batendo suas asas possibilita esse movimento de cura.

Créditos de imagem: Vicent Van Zalinge